Walter Piva Rodrigues
Qual das tradições, meus amigos, da Velha Academia, qual delas evocar neste momento de solene sacrifício?
[A Liturgia Eucarística abre-se com conhecida oração – “orai, irmãos e irmãs, para que levando ao altar as alegrias e fadigas de cada dia, nos disponhamos a oferecer um sacrifício aceito por Deus Pai todo-poderoso”]Há boas [tradições] e outros nada recomendáveis… .
Todavia, “quem sente bater no peito heróica pancada”, sem amor fingido para com a Velha Academia, sabe a qual delas nos filiamos, todos, Mestre Goffredo [que saudade imensa], e os que aprenderam suas lições, as do Direito, as deixadas pela militância de cidadão probo, bem sabemos, que o Estado legítimo é o Estado de Direito é o Estado Constitucional. “O Estado de Direito é o Estado que se submete ao princípio de que Governos e governantes devem obediência à Constituição”.
Bem sabemos, todos, sobretudo, os que assumiram, em sua despedida, o compromisso de dar continuidade à sua luta pelo Direito, pelos valores da Paz, da Liberdade, da Justiça, bem sabemos, repito, que não se apaga de nossa memória sua preciosa aula sobre o que é legal e o que é legítimo.
A legitimidade se instaura pelas exigências do que é o mais justo e a lei, muita vez, é regra ditada pelo interesse dos mais fortes.
Ousamos meditar sobre a crise de governo do Paraguai, tudo indica, é uma crise contra o Estado de Direito que em seu seio alberga a garantia do devido processo legal que não dispensa o legítimo direito de defesa! Ousamos mais.
Pelos valores que suas lições encarnaram, Mestre Goffredo, repeliu a posição dos que, nada obstante terem cursado a Velha Academia, em tempos mais recentes, freqüentando seus corredores e adentrando suas salas de aula, discordamos da opinião dos que, tudo indica, perderam o encanto do tempo vivido no “pátio e na escadaria”.
“[“ “As Trovas Acadêmicas”… três. No pátio e na escadaria, o tempo fica encantado; futuro vira presente, presente vira passado “]
É preciso que seus seguidores, Mestre Goffredo, proclamem onde e quando for necessários, cultores que somos da “disciplina da convivência humana”, todos, certamente todos, repelimos ataques fundados em “higienismo”, como o de ontem, divulgado na Folha de São Paulo contra moradores de rua, sob o rótulo “Os donos do Largo de São Francisco” (Folha, opinião A3)
Ousamos dizer, em nossa fé cristã, perdoe-lhes Senhor, eles não sabem o que dizem!
Consciência da sociedade, meus amigos, e ação do Estado se pedem é para erradicar a pobreza, assegurar moradia, punir empresários que praticam a corrupção e agentes do Estado que se deixam corromper.
Repudiamos, sim, em nome dos que cultuam o melhor das tradições das Arcadas, repito, repudiamos a posição dos que encantados por valores outros que não os proclamados por Mestre Goffredo, praticam inaceitável traição ao ideário da “disciplina da convivência humana”.
Repetimos alto e bom som, com Goffredo, – “O certo é que o Direito, como o amor, tem a sua fonte originária no coração dos seres humanos”.
Daqui, concitamos a Douta Congregação, os alunos de hoje, os de ontem e os de sempre, que é chegada a hora de cravar no Páteo de Pedras onde mais for possível as imorredouras lições do Mestre Goffredo.
Aprumo meus sentidos e revejo-o proclamando com cadência suave e ao mesmo tempo forte, perene;
“Minha Casa, minha Escola, minha egrégia Faculdade, patio das minhas Arcadas, jardim de pedra e de sonhos, sede nossos mistérios. O nosso território livre do largo de São Francisco, a velha e sempre Nova Academia.”
Em defesa da Liberdade no Largo sacrossanto, em defesa dos moradores de rua, em defesa da democracia… Goffredo, sempre.